“Aquilo que os homens de fato querem não é o conhecimento,
mas a certeza.”
Bertrand Russell
Nos anos
obscuros para muitos e nem tanto para poucos, o nosso iluminado Caetano Veloso compôs
uma bela canção – “Como Dois e Dois” que diz tudo certo como dois e dois são
cinco - para expressar a desigualdade usando uma ”igualdade”. No entanto lá na
terra onde ele precisou viver, por motivo nem de longe certo, a banda britânica
The Beatles acertou – com seus membros Paul, John, George e Ringo afinados em coro
- o resultado da soma no verso “one and one and one is three” da canção Come
Together, mas eles viviam num mundo onde todas as contas fechavam sem sofismos.
Questões políticas, econômicas e sociais à parte ...
DOIS E DOIS SÃO CINCO ... Então se
0 = 0 pode-se também representar
assim
4 – 4 = 10 – 10 e esta deste
modo
22 – 22 =
(2 . 5) – (2 . 5) ela ainda tem essa aparência
22 – 22 =
2 . (2+3) – 2 . (2+3) e mais essa
(2 + 2) . (2 – 2) = (2 + 3) .
(2 - 2)
Agora dividindo ambos os lados
da igualdade por (2 – 2), chega-se a (2 + 2) = (2 + 3) que implica em 2 + 2 = 5.
EPA!!! ABSURDO! TODOS NÓS SABEMOS QUE 2 + 2 = 4. A DEMONSTRAÇÃO ESTÁ FURADA! ONDE
FOI QUE EU ERREI !?
O grande e influente matemático, lógico e filósofo Bertrand
Arthur William Russell (1872-1970), conterrâneo dos Beatles, escreveu a sua “Introdução
à Filosofia Matemática” no cárcere (1918), este por motivos políticos, onde
segundo ele as condições foram boas para filosofar. Assim, o resultado da
prisão foi um texto claro, que não demanda conhecimentos prévios, onde ele
expõe, de modo elementar a definição lógica de número, a análise da noção de
ordem, a doutrina moderna do infinito, a natureza da infinitude e da
continuidade, a teoria das descrições e classes como funções simbólica.
No decorrer de sua longa existência, ele foi
agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1950, dedicou-se também à
Psicologia, viajou por diversos países, onde em conferências que realizou,
procurou explicar e divulgar as suas concepções filosóficas. Escreveu também os livros Outline of Philosoph,
Principles of Social Reconstruction, The Analyses of Matter, Marriage and
Morals, Education and the Social Order, e outros.
Bertrand,
certa vez discorreu sobre a possibilidade de se deduzir qualquer coisa a partir
de uma proposição falsa. Um dos seus pupilos o desafiou: “Considerando que 2 +
2 = 5, então é possível provar que o senhor é o Papa?”. Então ele
respondeu “Sim”. Notando a expressão cética do aprendiz, o mestre lhe propôs a
demonstração:
No mundo matemático eu sou
Pop. Suponha que 2 + 2 = 5. Subtraindo 2 de cada lado da igualdade, obtemos 2 =
3. Por simetria 3 = 2. Agora subtraindo 1 de cada membro, tem-se que 2 = 1. O
Papa e eu somos duas pessoas, se 2 = 1 então o Papa e eu somos um. Portanto, o
Papa é Pop.
Mas essa é outra
canção ...
Afinal, em que passagem da demonstração eu errei?
GENERALIZANDO O SOFISMO
Seja a = b, multiplica-se
então a a ambos os membros da igualdade, assim
a = b
a.a = a.b . Soma-se a2
– 2ab aos dois lados e tem-se
a2 + a2 –
2ab = ab + a2 – 2ab. Simplificando fica
2a2 – 2ab – a2
– ab
2(a2 - ab) = a2
– ab. Divide-se os dois lados por a2 – ab e concluí-se que
2 = 1 . AH ! MAIS UMA VEZ O ERRO
FATAL ACONTECEU !
Nas duas ocorrências, no último passo, onde se divide
ambos os lados, no primeiro caso por 2 – 2 e desta vez por a2 – ab (lembre
que inicialmente assumimos que a = b ) é equivalente a dividir por ZERO, pois
não se pode dividir por zero devido ao fato de zero não possuir inverso. Se zero
tivesse inverso existiria algo que multiplicado por ele resultaria 1, por
exemplo, 0 x a = 1 o que não é verdade.
A lógica também nos leva às ciladas verbais.
UM POUCO DE REFLEXÃO
Afinal, por que estudar?
Quanto mais se estuda, mais se
sabe.
Quanto mais se sabe, mais se
esquece.
Quanto mais se esquece, menos
se sabe.
Portanto, quanto mais se
estuda menos se sabe.
Ora, por que estudar ?
Devo lembrar e deixar claro que não estou fazendo
apologia ao não estudar.
Outro dia voltando para a minha casa ouvir a
conversa, dentro do ônibus, em alto som, entre duas mulheres que discutiam entre
elas sobre o amor. A mais nova disse: “Quem ama não adoece!”. A outra, em fúria, rebateu: “As pessoas que
amam não são felizes!”. Então só me restou concluir: Logo, as pessoas sadias
são infelizes. Ora, ora. Pois, pois.
Cuidado ao usar a lógica!
“O truque da filosofia é começar
por algo tão simples que ninguém ache digno de nota e terminar por algo tão
complexo que ninguém entenda.”
Bertrand Russell
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARROS, Dimas Monteiro de.
Enigmas, Desafios, Paradoxos e Outros Divertimentos Lógicos e Matemáticos. Editora
Novas Conquistas, São Paulo, 2003.
RUSSELL, Bertrand. Introdução
à Filosofia Matemática (Introduction to Mathematical Philosophy, tradução de
Maria Luiza X. de A. Borges). Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2007.
NOVA ENCICLOPÉDIA DE
BIOGRAFIAS, volume 4 de 5 volumes. Planalto Editorial Ltda, Rio de Janeiro,
1978.
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