As seis etapas do
processo de aprendizagem em matemática, autor Zoltan Paul Dienes, Editora Herder, São Paulo, 1972.
Dificuldades
no Ensino-Aprendizagem da Análise Combinatória
A
diferença entre aprender e compreender parece ser tão pequena, que ambos se
confundem. No entanto, a ciência ainda não apresentou uma resposta plausível à
questão; disse Zoltan Paul Dienes, que foi professor e diretor do Centro de
Pesquisas em Psico-Matemática da Universidade de Sherbrooke, no Canadá, em seu
trabalho “As seis etapas do processo de aprendizagem em matemática”, 1972.
Neste início de milênio, vivemos num
sistema muito exigente com relação ao aprendizado, no que se refere à inserção
do cidadão no mercado de trabalho repleto de tecnologias. O empregador
determina que o empregado seja munido de habilidades que possibilitem solucionar
problemas com muita praticidade, rapidez e eficácia. Porém, isso só será
possível se o cidadão tiver um ensino de base compatível com essas exigências.
É comum, no dia a dia, encontrarmos na
mídia escrita e falada frases como: “a taxa de ...”, “as chances de ...”, “a
possibilidade de ...”, “a probabilidade de ...”. Essas frases são muito
familiares ao estudante a partir do 9º ano do ensino fundamental, quando tem
seu primeiro contato – muito elementar – com a Estatística e com o aluno a
partir do 2º ano do ensino médio, quando começa seu estudo de Análise
Combinatória e, posteriormente, Binômio de Newton e Probabilidade. No 3º ano ele
começa os estudos propriamente ditos de Estatística. Todos esses conteúdos têm
como fundamento a Análise Combinatória. No entanto, existe uma problemática acerca
do seu ensino que se estende na vida desse aluno, interferindo, negativamente, na
prática diária e muito em sua vida acadêmica.
Muitos
pesquisadores no campo da Educação Matemática vêm desenvolvendo trabalhos que
levantam questões relevantes quanto à aprendizagem da Análise Combinatória e que
delineiam toda uma problemática. No VIII
Encontro Nacional de Educação Matemática realizado em Recife, entre 15 e 18 de
julho de 2004, Augusto César Barbosa Dornelas, mestrando da Universidade
Federal Rural de Pernambuco (UFRP) apresentou um artigo intitulado “Resolução
de Problemas em Análise Combinatória: Um Enfoque Voltado Para Alunos e
Professores do Ensino Médio”. Este trabalho objetivou avaliar o grau de
destreza de alunos de Matemática, especificamente, os de Análise Combinatória.
Dornelas utilizou a de aplicação de dois
formulários para captar as informações para a sua pesquisa. No primeiro
questionário, ele se preocupou em avaliar conceitos, vocabulário e aspectos
referentes ao estudo da Análise Combinatória. No segundo, preocupou-se em
avaliar a habilidade dos alunos em resolver quatro questões simples envolvendo
o conteúdo. Dornelas cita David Ausubel.
A aprendizagem se dá levando-se em
consideração os conhecimentos prévios que o aluno apresenta (subsunçores) em
sua estrutura cognitiva e a partir daí fazer com que os novos conceitos e
idéias sistematizadas ancorem e possibilitem uma transformação e um desenvolvimento
cognitivo que é resultado da fusão de conceitos a priori e a posteriori, que
são constituídos a partir da aprendizagem... . (AUSUBEL, 1982 apud DORNELAS,
2004, p. 19).
Dornelas contatou 87 alunos do ensino
médio (2º e 3º anos), onde, tradicionalmente, este conteúdo é abordado; obteve
como resultado aspectos não muito diferentes dos que já havia obtido na prática
de sala de aula. Concluiu, primeiramente, que há o desconhecimento do Princípio
Fundamental da Contagem, isto é, o Princípio Multiplicativo que está sendo
inadequadamente transmitido aos alunos; e num segundo momento, quando se
preocupa com aspectos didáticos, finaliza “... os resultados obtidos reforçaram
nossa crença de que a sua apreensão significativa depende de uma mudança de
atitude e orientações didáticas que propiciem aos alunos uma aprendizagem
quantitativa e qualitativa mais sustentável, que contribua para não só
desmistificarmos como também motivarmos alunos e professores a trabalharem
temas ligados à Análise Combinatória de forma mais natural, objetiva e
produtiva.”.
Diante das numerosas aplicações da
Análise Combinatória a realidade do seu ensino-aprendizagem diverge das
exigências impostas no mercado de trabalho que, atualmente, é voltado para
análises que exigem constantes predições quanto às tendências do mercado nas
realizações de seus negócios. Isso exige que o empregador e o empregado apliquem
raciocínio probabilístico diante das situações do cotidiano. No entanto, o
ensino-aprendizagem contraria um dos objetivos da Escola Moderna que é preparar
o aluno para o trabalho. Para muitos estudiosos da questão, a ausência do
raciocínio combinatório é devido à falta do contato com a disciplina nos
primeiro anos de vida escolar. O pedagogo José Luiz de Paiva Bello em seu
artigo “A Teoria Básica de Jean Piaget”, de 1995, trata das
fases do desenvolvimento motor, verbal e mental dos indivíduos. Bello destaca
que para Piaget
o comportamento dos seres vivos não é inato; nem resultado de condicionamentos.
Para ele o comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo.
BELLO, 1995, p. 2.
E.
Período Operatório Abstrato dos
11 anos em diante.
É o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático. É quando o indivíduo está apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de interesses orientados para o futuro. É, finalmente, a “abertura para todos os possíveis”. A partir desta estrutura de pensamento é possível a dialética, que permite que a linguagem se dê a nível de discussão para se chegar a uma conclusão. Sua organização grupal pode estabelecer relações de cooperação e reciprocidade. (PIAGET, 1982 apud BELLO, 1995, p. 5,)
É o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático. É quando o indivíduo está apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de interesses orientados para o futuro. É, finalmente, a “abertura para todos os possíveis”. A partir desta estrutura de pensamento é possível a dialética, que permite que a linguagem se dê a nível de discussão para se chegar a uma conclusão. Sua organização grupal pode estabelecer relações de cooperação e reciprocidade. (PIAGET, 1982 apud BELLO, 1995, p. 5,)
As mestrandas em Educação Matemática Adriana
Luziê de Almeida e Ana Cristina Ferreira, autoras do artigo “Aprendendo Análise
Combinatória Através da Resolução de
Problemas: Um Estudo com Classes de 9º Ano do Ensino Fundamental e 2º Ano do
Ensino Médio”, apresentam um projeto de Mestrado em fase inicial, visando
responder à questão: “Que contribuições, uma proposta de ensino embasada na
resolução de problemas e na investigação matemática em sala de aula, pode
trazer para o ensino e a aprendizagem de Análise Combinatória na Educação
Matemática?” (LUZIÊ e FERRREIRA 2009). Este trabalho teve o propósito de construir,
implementar e analisar uma proposta de ensino de Análise Combinatória em turmas
do 9º ano do ensino fundamental e 2º ano do ensino médio.
Após um trabalho de coleta de dados, estes
foram analisados e verificou-se que ensinar Análise Combinatória tem sido muito
difícil para muitos professores de matemática. Conversaram informalmente com
docentes e observaram que é comum ensinar Análise Combinatória através de
aplicação de fórmulas ou por padrões de soluções.
Citamos os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) que se refere à importância do raciocínio combinatório na
formação dos alunos, da seguinte forma:
As habilidades de
escrever e analisar um grande número de dados, realizar inferências e fazer
predições com base numa amostra de população, aplicar as idéias de
probabilidade e combinatória a fenômenos naturais e do cotidiano são aplicações
da Matemática em questões do mundo real que tiveram um crescimento muito grande
e se tornaram bastante complexas. Técnicas e raciocínios estatísticos e
probabilísticos são, sem dúvida, instrumentos tanto das ciências da Natureza
quanto das Ciências Humanas. Isto mostra como será importante uma cuidadosa
abordagem dos conteúdos de contagem, estatística e probabilidades no Ensino
Médio ... (PCN, 1998, p.257 apud LUZIÊ e
FERRREIRA, 2009, p. 2).
As autoras, concluem que os alunos
tiveram dificuldade quanto à resolução dos problemas, não apresentando
desenvoltura e rapidez. Talvez isto esteja ligado ao fato dessa turma estar
acostumada a seguir resoluções padrões e não criar suas próprias estratégias.
... parece necessário romper-se com modelos
tradicionais e implementar novas propostas. Deixar que o aluno construa suas
próprias resoluções através da análise e discussão de problemas é uma
alternativa para o ensino da Análise Combinatória. (LUZIÊ e FERREIRA, 2008, p.2)
Desta forma, a aversão à Análise Combinatória
talvez ocorra devido ao modo pelo qual essa disciplina é abordada. Em geral o
conteúdo é trabalhado induzindo o aluno à memorização de fórmulas e o trabalho
com problemas padronizados. Novas estratégias devem ser buscadas para que o
aluno construa as principais ideias ligadas à contagem, levando assim com que
desenvolva o raciocínio combinatório.
Para Saber Mais
DORNELAS,
Augusto César Barbosa. Resolução de Problemas em Análise Combinatória: Um Enfoque Voltado Para Alunos e Professoresdo Ensino Médio. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino
das Ciências – Nível de Mestrado da Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRP). 2004. Acessado dia 16 de agosto de 2012.
LUZIÊ, Adriana de
Almeida. FERREIRA, Ana Cristina. Aprendendo Análise Combinatória Através daResolução de Problemas: Um Estudo com Classes de 9º Ano do Ensino Fundamental e2º Ano do Ensino Médio. Projeto de Mestrado apresentado no Encontro de Educação
Matemática de Ipatinga – Minas Gerais, 2008. Acessado dia 16 de agosto de 2012.
BELLO, José Luiz de
Paiva. A Teoria Básica de JeanPiaget. Vitória - 1995. Acessado dia 16 de agosto de 2012.
DIENES,
Zoltan Paul. As seis etapas do processo de aprendizagem em matemática. Editora
Herder. São Paulo, 1972.
(*.*) (*,*) (*]*)
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