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sábado, 24 de março de 2012

Poesia Matemática



Silenciosa - 23/03/2012 - Imagem criada por mim para esta poesia

Poesia Matemática

"Às folhas tantas
do livro matemático
um
Quociente apaixonou-se um dia doidamente
por uma
Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base uma figura
ímpar;
olhos
rombóides, boca trapezóide,
corpo
retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no
infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de
Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em
aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da
velocidade da luz numa sexta potenciação ao traçando
sabor do momento
e da paixão

retas, curvas, círculos e linhas senoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os
ortodoxos das fórmulas euclidianas
e os
exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o
Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos,
equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade

integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma
secante e três cones muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal

monotonia.
Foi então que surgiu
O
Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma
grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o
triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma
fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que
Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade,
como aliás em qualquer
sociedade."
Millor Fernandes, in Jornal dos Sports, 25/6/1967. Extraído do livro Redação para Concursos - Teoria e Testes - 2ª Edição Revista e Ampliada, autor Renato Aquino - Editora Impetus.
"Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai
As velhas formas do viver
"


Gilberto Gil - Álbum: Raça Humana - 1984, trecho da canção Tempo Rei

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