A TRIGONOMETRIA
DA ORIGEM ATÉ A
SISTEMATIZAÇÃO
Os estudantes do ensino médio aprendem
que trigonometria é o ramo da matemática que estuda a relação entre as medidas
dos lados e dos ângulos de um triângulo e que este estudo não é algo recente,
mas que teve origem na antiguidade.
Os matemáticos antigos
fundamentaram-se em dois conceitos poderosos para realizar os seus trabalhos – por
exemplo, calcular a altura das pirâmides, a largura dos rios e a altura das
montanhas - que são: SEMELHANÇA DE TRIÂNGULO e RAZÃO ENTRE DOIS NÚMEROS. Embora
o conhecimento matemático dos antigos fosse muito rudimentar esses
procedimentos deram início à trigonometria.
A trigonometria não foi obra de um
homem, muito menos de somente um povo. Ela é considerada uma extensão natural
da geometria e os antigos egípcios e babilônios usavam-na para solucionar
muitos problemas na agrimensura (esticadores de cordas), navegação (rotas marítimas)
e astronomia (determinação de eclipses, fases da lua e distâncias inacessíveis).
Foram os babilônios que dividiram a circunferência em graus, minutos e
segundos, que estão em uso até hoje.
O conceito de razão era usado pelos egípcios para calcular uma
inclinação qualquer. Porém eles seguiam um raciocínio inverso ao conceito
moderno: Se uma construção se eleva 50 metros para um afastamento de 100
metros, nos padrões modernos a inclinação da construção é de 50/100 ou 50%. No
entanto, para os egípcios ao que se chama inclinação eles denominavam como seqt
que era a razão entre o afastamento horizontal e a elevação vertical. Calculada
de modo inverso ao atual: seqt = 100/50 = 2.
Uma façanha atribuída ao matemático grego
Tales de Mileto (624 a.C. – 558 a.C.) é que ele podia calcular a altura de uma
construção - por mais elevada que fosse, sem precisar subir nela - por meio de
semelhança. É de Tales o Teorema: Um feixe de paralelas determina em duas transversais,
quaisquer, seguimentos proporcionais.
Uma demonstração simples para o
Teorema de Tales, usando a propriedade “Se um feixe de paralelas determina
segmentos congruentes sobre uma transversal, também determina segmentos
congruentes sobre qualquer outra transversal” e o fato de que os segmentos AB e
BC sejam comensurais e assim atribuindo valores numéricos a eles é:
1 – Primeiramente suponha que AB e BC
sejam comensuráveis s seja u a unidade padrão de medida. Temos:
AB = 5 u
à
AB / BC = 5 / 3
BC = 3 u
2 – Agora trace pelos pontos de
divisão de AB e BC as paralelas à reta a = AM do feixe, que vão interceptar t2
em segmentos congruentes v, de acordo com a propriedade do feixe de paralelas,
então:
MN
= 5 v
à MN /
NP = 5 / 3
NP
= 3 v
3 – Finalmente compare o item 1 com o item 2, assim
temos:
AB/BC = MN/NP à AB, BC, MN e NP são proporcionais ▪
Note que se AB e BC forem incomensuráveis, o Teorema de
Tales também é verdadeiro.
O conceito de trigonometria
pode ser encontrado também no trabalho do grego Aristarco de Samos (310 a.C.-
250 a.C.) intitulado Das grandezas e das distâncias ao Sol e à Lua que é um
tratado de astronomia. Nessa obra aparece a expressão: 1/20 < sen 3º <
1/18.
Muitos
pesquisadores atribuem ao astrônomo e matemático grego Hiparco de Nicéia (190
a.C. – 125 a.C.) o estabelecimento das bases da trigonometria, devido ele ser o
primeiro a usar as relações entre os lados e os ângulos de um triângulo
retângulo e também construiu, presume-se, a primeira tabela trigonométrica.
Devido a isso, a sociedade científica moderna o considera o Pai da Astronomia.
Séculos
depois os hindus e os árabes muito contribuíram para o desenvolvimento da
trigonometria. A matemática árabe atingiu, no século XII, um desenvolvimento
muito grande que nesse século, realizaram-se muitas traduções do árabe para o
latim, este fato possibilitou o desenvolvimento da matemática europeia. As
traduções foram feitas por bons matemáticos e nesse meio estava o inglês Robert
de Chester (sec XII 1140 - ?) que muito se destacou.
Os
árabes haviam traduzido textos de trigonometria do idioma sânscrito e nesse
processo, quando encontraram a palavra jiva (meia corda) eles escreveram jiba.
É comum na língua árabe escrever apenas as letras consoantes de uma palavra e
deixar o leitor acrescentar mentalmente as vogais. Desta forma, os tradutores
árabes registraram: jb. Chester, ao traduzir do árabe para o latim, interpretou
jb como sendo as consoantes da palavra jaib, que em latim significa baía ou
enseada e escreve-se assim: sinus.
Devido
a isso, a razão entre o cateto oposto e a hipotenusa de um triângulo retângulo
passou a ser chamada de sinus que em português significa seno: sen α/2 = cateto
oposto / hipotenusa = jiva / 1. Note que a razão seno é válida para qualquer
triângulo retângulo, pois triângulos semelhantes têm os lados proporcionais. Isto
significa que em qualquer triângulo que tiver um ângulo agudo medindo α / 2, a
razão entre o cateto oposto ao ângulo α / 2 e a hipotenusa é dito seno de α /
2: sen α / 2 = b / a.
Toda
a trigonometria estudada até hoje está fundamentada no seno dos hindus e todas
as outras razões trigonométricas no triângulo retângulo foram criadas, a partir
de seno, são: cosseno, tangente e cotangente.
Cosseno
de um ângulo agudo é a razão entre o cateto adjacente ao ângulo e a hipotenusa:
cos α / 2 = c / a.
Tangente
de um ângulo agudo é a razão entre o cateto oposto ao ângulo e o cateto
adjacente ao ângulo: tg α / 2 = b / c.
Cotangente
de um ângulo agudo é a razão entre o cateto adjacente e o cateto oposto ao
ângulo: cotg α / 2 = c / b.
Um
exercício clássico de trigonometria é: Pergunta-se: Qual é a largura L (em
metro) de um rio, sem atravessá-lo? Para isso, adota-se o seguinte
procedimento:
1-
Marca-se dois pontos, A (uma estaca) e B (uma
árvore), um em cada margem do rio, tal que o ângulo no ponto A seja reto.
2-
Marca-se um ponto C, distante 10 metros de A,
onde fixamos o teodolito (aparelho medidor de ângulos).
3-
Medimos o ângulo de 80º no ponto C.
Mediante
as condições, calcule a largura L do rio.
Solução:
Note que o triângulo ABC é retângulo, onde L = cateto oposto ao ângulo de 80º e
10 = cateto adjacente ao ângulo de 80º. Segue que:
Tg
80º = L / 10 à 5,7
= L / 10 à L =
5,7 x 10 à L = 57 m, que é a largura do rio.
O
primeiro a sistematizar a trigonometria foi o matemático alemão Johann Müller
von Königsberg (1436-1476) - conhecido pelo topônimo Regiomontanus (Königsberg
para o latim Regiomontanus para o português Montanha do Rei) – em sua obra De
Triangulis Omnimodis (Tratados dos Triângulos) onde expõe métodos para resolver
triângulos, marcando assim o renascimento da trigonometria. Entretanto, com o
passar do tempo, a trigonometria evoluiu muito que além de ser utilizada na agrimensura,
navegação marítima e astronomia é usada em larga escala na física, na navegação
aérea e na engenharia.
Para Saber Mais:
GUELLI, Oscar. Dando Corda na Trigonometria, número
6 – Contando a História da Matemática. Editora Ática, São Paulo, 1993.
IEZZI, Gelson. Fundamentos de Matemática Elementar
– Trigonometria – volume 3, 7ª edição. Editora Atual, São Paulo, 1995.
BOYER, Carl B. História da Matemática (A History Of
Mathematics, 1991 – Tradução: Elza F. Gomide), 2a edição. Editora
Blucher Ltda, São Paulo, 1996.
trigonõnmetron
sistematizar: ordenar mediante organização.
ResponderExcluirAgora olharei para os triângulos com mais curiosidade!
Grande post!
Goste muito mesmo. Poste algo sobre trigonometria na circunferência.
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